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Festival Cine Mulher - Tema 1 - Rev. 1

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Tema: Identidade de Gênero

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Identidade de gênero

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Na sociedadeidentidade de gênero (português brasileiro) ou género (português europeu) se refere ao gênero com que alguém se identifica (i.e, se ela se identifica como um homem, uma mulher ou pessoa não-binaria, mas pode também ser usado para referir-se ao gênero que certa pessoa atribui ao indivíduo tendo como base o que tal pessoa reconhece como indicações de papel social de gênero (roupas, corte de cabelo, etc.).[1]

Do primeiro uso, acredita-se que a identidade de gênero se constitui como fixa e como tal não sofrendo variações, independente do papel social de gênero que a pessoa apresente pra ela.

Do segundo, acredita-se que a identidade de gênero possa ser afetada por uma variedade de estruturas sociais, incluindo etnicidade, trabalho, religião ou irreligião, e família.

Jaqueline Jesus define a identidade de gênero como: "Gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento. Diferente da sexualidade da pessoa. Identidade de gênero e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem. Pessoas transexuais podem ser heterossexuaislésbicasgays ou bissexuais, tanto quanto as pessoas cisgênero".[2] 

Miriam Pillar Grossi, professora no curso de Ciências Sociais da UFSC, destaca que, diferentemente dos papéis sociais de gênero, que não são biologicamente determinados, mas sim construtos culturais e históricos, a identidade de gênero "remete à constituição do sentimento individual de identidade".[3] No entanto, Henrietta L. Moore pontua que a identidade de gênero é construída e vivida na "relação entre estrutura e práxis, entre o indivíduo e o social"[4]


ANALISE do filme ALICE JUNIOR


 

 

SINOPSE


Em Alice Júnior, Alice (Anne Celestino) é uma adolescente trans cheia de carisma que investe seu tempo fazendo vídeos para o Youtube.


Um dia, seu pai Jean (Emmanuel Rosset) é transferido pela sua empresa no Recife para Araucárias do Sul, e eles precisam se mudar.

 

Na nova escola, Alice enfrenta preconceitos ao se deparar com uma sociedade mais retrógrada do que estava acostumada.

O desejo da menina é dar seu primeiro beijo mas, antes de tudo, quer o direito de ser quem ela é. 

CRÍTICAS ADOROCINEMA

Alice Júnior - Necessidade que transborda à tela - por Sarah Lyra

Alice Júnior é um filme que se faz essencial, enquanto obra cinematográfica, já em sua concepção. A premissa de abordar inquietações e anseios de uma jovem transgênero, sem que isso necessariamente seja o foco do drama, é, no mínimo, louvável. Em algum ponto, dada a sociedade preconceituosa em que vivemos, a condição da protagonista inevitavelmente se torna uma questão, mas o que chama atenção neste projeto é que a abordagem do diretor Gil Baroni não lança um olhar julgador sobre aqueles, digamos, menos esclarecidos, se dispondo até a ser didático em relação ao complexo tema. O cineasta parte da ideia de que não se nasce sabendo. No entanto, a partir do momento em que há uma recusa deliberada à elucidação, a situação se torna mais problemática.

Alice (Anne Celestino) é uma garota como qualquer outra: passa a maior parte do tempo livre na Internet, vive um amor platônico e fantasia com o primeiro beijo, enquanto lida com dramas colegiais que envolvem bullying, triângulos amorosos, aceitação em grupos de amigos e questões de autoimagem. A diferença é que, por ser trans, esses problemas, que já são graves por si só, se tornam ainda mais intensos. Por isso, é um frescor notar como Baroni sequer cogita a possibilidade de diferenciá-la de seus pares. Ao retratar a relação entre a protagonista e seu pai Jean (Emmanuel Rosset), o diretor opta por uma interação em que a figura paterna não só entende, como aceita completamente a condição da filha. Não há um único momento na trama em que Alice ser trans seja uma questão para o pai, muito pelo contrário. Ele enaltece a diversidade da filha e mostra que, ao contrário do que se imagina, é algo perfeitamente natural.

Uma das cenas mais reveladoras nesse sentido é quando os dois fazem uma refeição caseira juntos, e, ao soltar um palavrão, a filha é repreendida pelo pai por conta do termo usado, que ele considera ofensivo. “Palavrão na mesa, não, Alice”, diz Jean. Com isso, Baroni diz que o foco está em abordar os desgastes de convivência existentes em qualquer relação familiar. Esse aspecto é reforçado na interação entre um dos estudantes, que é gay, e sua mãe, com quem possui um relacionamento saudável. Nos momentos em que decide lembrar o espectador da condição de Alice, o realizador aponta para um tratamento ainda muito primitivo por parte da sociedade quando se fala em respeito aos direitos trans, como o uso de banheiros públicos conforme a sua identidade de gênero.

Todo o trecho do longa destinado a abordar essa questão, especificamente, é tratada com uma sensibilidade notável, além de deixar o questionamento mais do que evidente: como é possível que, nos dias atuais, algo tão elementar ainda esteja em debate? A abordagem de Baroni em si apresenta alguns problemas, principalmente no roteiro. Para um filme que se pauta tanto em sutilezas e no contrafluxo para comunicar sua mensagem, a cena em que Alice não consegue ir ao banheiro e acaba sendo humilhada na frente dos colegas soa excessiva, embora as reações em si pareçam cruelmente realistas.

Um momento também marcante é aquele em que um dos amigos mais próximos de Alice diz que ela não parece ser trans, ao que a garota responde: “isso é uma coisa horrível de se dizer a uma trans”. Intrigado pela fala da amiga, o garoto precisa receber toda uma explicação sobre o que está implícito na pergunta — e, nesse momento, a personagem dá uma verdadeira aula em sua resposta. Outro ponto interessante do roteiro de Luiz Bertazzo é o desfecho encontrado para o triângulo amoroso. Embora a mensagem empoderadora em voice-over seja excessivamente explicativa, a ideia de abrir mão completamente de rótulos pré-estabelecidos se mostra uma decisão sábia e acertada diante da temática proposta e do público-alvo do projeto.

Alice Júnior — e Anne Celestino, mais especificamente — abre o caminho para o que se espera ser uma rica trajetória de empoderamento dos artistas transgêneros no cinema brasileiro, em que a intolerância dê lugar à elucidação e o respeito à diversidade não pareça algo de outro mundo.

Filme visto no 26º Festival de Cinema de Vitória, em setembro de 2019.